sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Filme brasileiro denuncia massacre de mendigos nos anos 60

'Topografia de um desnudo' foi destaque no festival de Viña del Mar.
Dirigido por Teresa Aguiar, longa é adaptação de livro de Jorge Díaz.



Gracindo Júnior e Lima Duarte em cena do filme 'Topografia de um desnudo'.
O Festival Internacional de Cinema de Viña del Mar exibiu nesta sexta-feira (20) a estreia mundial do filme "Topografia de um desnudo", obra prima da brasileira Teresa Aguiar, que denuncia uma operação de extermínio de mendigos pela polícia no Brasil nos anos 60.
Baseado no roteiro homônimo do dramaturgo chileno Jorge Díaz, o longa retrata a "operação mata-mendigos", como foi denominada na época, como um processo de limpeza social às vésperas da visita da rainha Elizabeth II da Inglaterra ao Brasil.
O saldo da operação, prévia ao golpe de estado de 1964 que derrubou o presidente João Goulart, foi de mais de dez indigentes torturados e assassinados, que dias depois apareceram flutuando nos rio Guandu e Guarda.
O encontro da diretora com a obra do chileno ocorreu em 1972, quando Aguiar visitou Manizales, na Colômbia, para fazer um espetáculo teatral, e onde, por sua vez, estava sendo apresentada também a "Topografia de um desnudo".
"Para nós foi uma surpresa. Não conhecíamos esses casos. Falei várias vezes com Jorge Díaz por telefone e perguntei a ele: como o senhor ficou sabendo disso? Ele só encolheu os ombros", relatou Aguiar, antes de partir a São Paulo, onde nesta mesma sexta (20) estreia o filme no Brasil.
"Quando chegamos ao país, o traduzimos. O texto foi retido pela censura durante 15 anos. Depois começou a luta contra a censura econômica, que é a que nos impede fazer tudo na vida", explicou Aguiar, quem demorou 25 anos para levar a obra à telona.
Diante dos preparativos para a realização do Mundial de Futebol e das Olimpíadas no Brasil, Aguiar criticou que está ocorrendo uma situação parecida nas ruas, de onde, segundo conta, "a Polícia recolhe os mendigos quando os responsáveis internacionais por estes eventos circulam pelas capitais".
"Nosso grito de guerra é o seguinte: com mendigos na rua não há Olimpíadas nem Mundial de Futebol. Falarei em 22 de dezembro, em um ato em que fui convidada e em que estará Lula (o presidente Luiz Inácio Lula da Silva) assinará um documento para que os direitos das pessoas que vivem na rua sejam preservados", assinalou a cineasta.
"Não sei qual será meu futuro depois disto, mas eu direi bem claro", acrescentou.
Como professora de arte dramática, a diretora levou inicialmente a obra aos palcos teatrais de São Paulo, mas finalmente decidiu transferi-la para o cinema com uma "grande motivação": "discutir esse problema com mais pessoas".
É protagonista no filme o ator Lima Duarte, que após a projeção do filme destacou a necessidade de divulgar fatos como estes para que não voltem a ser repetidos.
Na introdução do texto de Díaz, homenageado no Chile com o Prêmio Nacional de Artes Audiovisuais e da Representação em 1993, o dramaturgo assinala que "a obra está baseada em um fato real ocorrido no Brasil na década de 60, e que os jornais informaram na época".
"É um testemunho livremente concebido que não pretende reproduzir rigorosamente os personagens nem os detalhes do ocorrido, mas os fatos poderiam ocorrer em qualquer país onde se encontre injustiça, repressão e violência", adverte o também autor de "El cepillo de Dientes (A escova de dentes, em livre tradução)".

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