sexta-feira, 15 de maio de 2009

Diretora de "Fumando Espero" exorcisou o próprio vício filmando


O ator Ney Latorraca, com Adriana Dutra, fala no documentário "Fumando Espero"
Em "Fumando Espero", documentário de estréia de Adriana L. Dutra, o cigarro, que já foi tratado por Hollywood como sinônimo de glamour e sensualidade, é o grande vilão da história.

São cerca de 1 bilhão e 200 mil fumantes no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 60% das pessoas que tentam parar de fumar pela primeira vez não conseguem. Foi assim que Adriana se interessou pelo tema: quando tentou parar, não conseguiu abandonar o vício e percebeu que precisava de ajuda médica.

"Eu era uma dependente física da nicotina, além de psicológica, porque o cigarro estava presente na minha vida em momentos em que ativava em mim a necessidade de fumar. E comportamental também porque certos hábitos me levavam a fumar, como tomar uma cerveja", conta.

A partir da dificuldade, a diretora começou a pesquisar o tema, as manipulações da indústria, as fraudes da saúde pública e descobriu que era um assunto atraente para o formato de documentário.

Com depoimentos de fumantes e ex-fumantes, Adriana conta a história dessa indústria no Brasil e no mundo desde o início até os dias de hoje. Há espaço para todos os pontos de vista, como depoimentos de médicos, dos agricultores do fumo e até para os representantes da indústria. Estes últimos, no entanto, preferiram não falar.


Os ex-fumantes Eduardo Moscovis, Rita Guedes, Carla Camurati e os fumantes Charles Paraventi e Srcarlet Moon são algumas das personalidades que contam a sua relação com o cigarro. "Para escolher os personagens utilizei pessoas que faziam parte do meu convívio e anônimos que descobri na medida em que fiz a pesquisa", diz a diretora.

No início, o cinema foi utilizado pela indústria do tabaco como arma de publicidade. Mas não é mais assim. "Hoje em dia, é difícil você encontrar um filme onde existem personagens fumantes. O personagem fumante é o vilão, o malandro, mas a indústria está sempre trabalhando. Apesar de ser proibido marketing direto, existe o marketing indireto".

"O meu objetivo é que o filme seja veículo de reflexão. E realmente uma fonte de pesquisa, passa um panorama completo do cigarro", conclui a diretora.

Envolvida com a realização de festivais de cinema em todo o mundo há 15 anos, Adriana quer continuar sua carreira de diretora e já está escrevendo seu próximo longa, uma ficção.

Ney Latorraca: 6 anos sem fumar

"Fumando Espero" é a primeira participação do ator Ney Latorraca em um documentário. "Quando você fala num documentário, não tem nenhuma proteção, nem está atrás de nenhum personagem. Dei meu depoimento, ali fazia três anos que eu tinha parado; hoje, faz seis", conta.

O medo foi uma das razões que o levaram a parar de fumar: "Foi por medo e também porque eu sou uma pessoa que cheguei no ponto que tenho que respeitar o meu corpo como ator, para você ter um fim melhor de vida e estar melhor de cena, em respeito ao público", diz Ney Latorraca.

Para ajudar a abandonar o vício, o ator conta que inventou uma história para si mesmo: "Inventei um casal que eu não conheço, que mora na América, e toda vez que eu fumo cai um dinheiro na casa deles, numa caixa. Cada um tem que criar o seu método e eu não queria dar dinheiro para esse casal."

No momento, Ney Latorraca é produtor da peça "DesFigura" em cartaz todos os sábados, à 0h, no Espaço Parlapatões, em São Paulo, até dia 13 de junho.

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